A expansão cristianismo nos primeiros séculos

07/11/2011 18:08

A EXPANSÃO DO CRISTIANISMO NOS PRIMEIROS SÉCULOS

Os Evangelhos encerram suas narrativas com uma nota de alegria pela ressurreição de Jesus Cristo e uma ordem para proclamar o evangelho do Reino em todo mundo, Mt. 28.19, Mc. 16.15, Lc. 24.47, Jo. 20.21, sendo o mesmo assunto abordado no início da narrativa de Atos, At. 1.8. O universalismo[1] da mensagem bíblica não particularidade apenas dos autores neo-testamentários, mas a mesma estava profundamente enraizada também no solo do Antigo Testamento, Is 49.6, Sl. 72, Zc. 9.9-10, etc).

Após o Pentecostes, At 2, os seguidores de Jesus se conscientizam da universalidade da fé cristã e começaram a compartilhar a mesma no seu contexto em Jerusalém e posteriormente, após a perseguição e a morte de Estevão em Samaria, Síria e por todo mundo nos anos subseqüentes. Assim, a mensagem de Cristo foi levada a praticamente todo o mundo civilizado ainda no primeiro século da nossa era.  

O fato do cristianismo ter começado em Jerusalém foi providencial da parte de Deus, pois Israel ocupava posição geográfica estratégia para disseminação do evangelho, pois aquela região era um importante um corredor entre Ásia e África e não muito distante da Europa. Desta forma possibilitou uma expansão mais rápida da Igreja a partir do Oriente Médio que se espalhou num período relativamente curto.

A igreja se espalhou pelos três continentes conhecidos na época ainda no primeiro século, especialmente nas regiões dominadas pelo império Romano, como Europa, Norte da África e Oriente Médio.

  1. África

O texto de Atos 2 relata que havia judeus egípcios em Jerusalém no dia de Pentecostes. Provavelmente aqueles peregrinos eram da cidade de Alexandria, onde havia uma grande colônia judaica naquela época. Não sabemos ao certo quem pregou o Evangelho naquela região, no entanto, a tradição atribui a João Marcos, o evangelista, o trabalho realizado naquela cidade. Eusébio de Cesaréia (c. 311) foi o primeiro a registrar a possibilidade de Marcos ter sido o fundador da igreja em Alexandria.

Nos primeiros séculos existia ali uma igreja forte que através de um dos seus líderes, Panteno (c. 180), fundou a primeira escola de preparo de missionário e foi uma das primeiras igrejas a se preocupar com a tradução das escrituras, pois já no terceiro século havia uma tradução do Novo Testamento para a língua copta, falada no Egito da época.

O cristianismo egípcio foi severamente perseguido pelos imperadores romanos em várias ocasiões deixando muitos mártires. Orígenes, um dos pais da igreja, que viveu no terceiro século, escreveu que se lembrava de “milhares de mártires” em sua infância dado a ação cruel contra os cristãos. Entretanto, dali surgiu alguns pais da igreja, denominados Pais Latinos, que trouxeram importantes contribuições no desenvolvimento da teologia cristã ocidental, como por exemplo, os teólogos Agostinho, Tertuliano e Cipriano, entre outros. Além disso, na África começou a desenvolver o sistema monástico, “anacoreta” ou “Pais do Deserto” que tiveram um papel importante na preservação dos manuscritos durante a idade média.

Outra região da África que foi evangelizada nos primeiros séculos foi a Etiópia através dos irmãos Edésio e Frumêncio, que por volta do ano 330 foram atacados por piratas e levados aquele país como escravos. Ali eles tiveram um papel importante na evangelização entre os palacianos, inclusive o rei, que se converteu, o qual os alforriou como prova de gratidão do rei. Frumêncio viajou para Alexandria e em contato com bispo Atanásio e pediu que envie missionários para dar continuidade ao trabalho que ele e o irmão começaram. Atanásio designou o próprio Frumêncio como bispo daquele país, o qual é reconhecido como o fundador da igreja etíope.

  1. Ásia

Não podemos nos esquecer que o cristianismo é asiático, nascendo em Jerusalém na Judéia teve sua primeira expansão missionária além dos limites do Oriente Médio, em Antioquia da Síria. Antioquia se destacou como uma das principais centros do cristianismo nos primeiros séculos, além de Jerusalém, Roma, Alexandria e Constantinopla.

O cristianismo depois de se solidificar em Antioquia foi levado de lá para a Ásia Menor através do apóstolo Paulo e seus companheiros, onde foi muito prospero durante séculos. Quase todo o Novo Testamento foi escrito na Ásia Menor ou para igrejas daquela região. De Antioquia partiram missionários para Edessa, a primeira cidade-estado a fazer do Cristianismo sua religião oficial, onde também teve o primeiro templo cristão, e primeira tradução dos evangelhos por volta de 160 e a partir dali houve produção e distribuição de Bíblias e literatura cristã em siríaco para o Oriente.

  1. Europa

A tradição católica romana diz que foi o apóstolo Pedro o fundador da igreja cristã em Roma, não há, no entanto, base histórica que fundamente esta crença, no entanto, desde muito cedo já havia grande número de cristãos em Roma.

            a. A evangelização dos Godos – Os Godos eram “bárbaros” da região do Danúbio que habitavam na fronteira com o império romano e a partir do século III constituíram-se uma ameaça para Roma. Em uma de suas guerras, os godos capturaram alguns prisioneiros capadócios que eram cristãos e assim tiveram o primeiro contato com o evangelho. Mas a evangelização dos godos aconteceu efetivamente com Úlfilas (c. 311-383) que foi o principal missionário entre eles e prestou um trabalho de grande relevância para o avanço do cristianismo. Sua grande contribuição foi ter grafado a língua gótica na forma de escrita e a tradução da Bíblia para aquela língua.

      b. A evangelização da Gália – O Evangelho foi levado para a Gália, atual França, talvez por comerciantes. No entanto, o principal missionário naquela região foi o bispo Irineu, discípulo de Policarpo, discípulo do apóstolo João. Criado em Esmirna, na Ásia Menor, onde se falava grego, foi enviado a Lyon na França no outro extremo do império, onde se falava latim para pregar aquele povo. Ele aprendeu a língua daquela região e se tornou um teólogo latino.

Quem evangelizou o norte francês foi o bispo Martinho de Tours no séc. IV, e no século seguinte, aconteceu a conversão do rei franco Clóvis e em 25 de dezembro de 496 ele foi batizado com 3000 de seus guerreiros. Os francos de Clóvis foram os primeiros “bárbaros” que aceitaram a fé cristã.

c. Evangelização da Irlanda – A Irlanda nunca fez parte do Império Romano, mas isso não impediu de ser evangelizada. O missionário entre os irlandeses foi Patrício, nascido na Inglaterra por volta de 389, sua aldeia foi invadida por piratas que o sequestraram e o venderam numa aldeia de irlandeses. Após seis anos de cativeiro, conseguiu fugir e embarcar em um navio que ia para França. Após um sonho (ou visão) convenceu-se de que Deus o mandava de volta para Irlanda. O seu ministério naquele país foi marcado por intenso esforço evangelístico, o que mudou a Irlanda de país pagão para país cristão. Até hoje, Patrício é conhecido como patrono da Irlanda. A tradição celta prestou relevante contribuição ao Cristianismo na Alta Idade Média.

            Foi assim que o cristianismo saiu do Oriente Médio e se expandiu em todo o mundo civilizado da época, desta forma criando uma forte base para superar os ataques que viriam dos bárbaros germânicos e o islamismo.

Pr. Florencio de Ataídes

 


[1] Referimo-nos ao “universalismo”, não no sentido da doutrina escatológica exclusivista que afirma que todos os homens serão salvos, mas no sentido de expansão da expansão do evangelho entre todos os povos.