Ashbel Green Simonton e o Protestantismo Brasileiro

07/11/2011 17:54

ASHBEL GREEN SIMONTON E O PROTESTANTISMO BRASILEIRO

Ashbel Green Simonton, missionário norte-americano, contribuiu significativamente para a implantação e expansão do protestantismo brasileiro. Quando chegou aqui, em 1859, o catolicismo romano era a religião oficial do Brasil Império, sendo proibida a instalação de igrejas protestantes em nosso país. No entanto, conseguiu romper as barreiras existentes realizando seu trabalho com êxito.

Simonton foi um dos primeiros missionários protestantes a vir para o Brasil. Ao chegar aqui, começou a pregar o Evangelho levando pessoas a Cristo, executando um plano de evangelização através de algumas estratégias dadas por Deus:

Minha presença e meus objetivos aqui não podem ficar escondidos... O futuro não pode ser previsto; portanto, busco a infinita sabedoria, e em tudo me submeto à Sua direção. Sinto-me encorajado pelo aspecto das coisas e esperançoso quanto ao futuro. Existem indicações de que um caminho está sendo aberto aqui para o Evangelho, (MATOS, p. 127).

Ele acreditava naquilo que Deus podia fazer através do seu ministério e não se intimidou diante das dificuldades. A ele juntaram-se obreiros destemidos como Blackford, Schneider, Chamberlain e o ex-padre brasileiro José Manoel da Conceição. Sendo um líder visionário, Simonton, alcançou seus objetivos num curto espaço de tempo, realizando um trabalho impressionante como veremos a seguir.  

  1. A Igreja Presbiteriana no Brasil

Oito meses depois de chegar ao Brasil, em abril de 1860, realizou a primeira Escola Dominical em sua própria casa, usando como material didático a Bíblia, o Catecismo de História Sagrada e o Progresso do Peregrino, de João Bunyan (MATOS, p. 140). Um ano depois, alugou uma pequena sala na parte central da cidade do Rio de Janeiro e ali ensinava inglês gratuitamente a um pequeno grupo de pessoas as quais falava constantemente do Evangelho (ATAÍDES, p. 49). Em seu diário registrou:

No dia 1º de maio, aluguei uma casa na rua Nova de Ouvidor nº 31 e comecei a dar aulas duas vezes por semana, em inglês e português, como recurso para ter contato com os brasileiros, e assim poder trazê-los à classe bíblica no domingo, (FERREIRA, p. 26).

Como resultado desse trabalho foi organizada, em 1862, a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro, a primeira comunidade reformada de língua portuguesa estabelecida no Brasil, composta de brasileiros e portugueses. Sobre isso escreveu em seu diário:

Domingo, dia 12 de janeiro de 1862, celebramos a Ceia do Senhor, recebendo por profissão de fé Henry E. Milford e Cardoso Camilo de Jesus. Organizamo-nos assim em Igreja de Jesus Cristo no Brasil, (FERREIRA, p. 26-27).

Simonton estava colhendo os primeiros frutos do investimento que fez no campo brasileiro, pois estava plantado aqui o Protestantismo.

Além da Igreja do Rio foram fundadas as Igrejas de São Paulo e Brotas, ambas na província de São Paulo. Em poucos anos houve uma explosão do protestantismo no Brasil, inclusive com a vinda de outras denominações.

  1. O primeiro jornal evangélico brasileiro

Simonton apreciava e sabia da importância da literatura para a solidificação do Evangelho no solo brasileiro (ATAÍDES, p. 66). Com este pensamento fundou o primeiro jornal evangélico do Brasil e talvez o primeiro da América Latina, “A Imprensa Evangélica”. Este teve um papel fundamental na disseminação do protestantismo brasileiro naquela época. Assim relatou Boanerges Ribeiro em uma de suas obras: “a Imprensa Evangélica foi o grande integrador da jovem denominação religiosa”, (RIBEIRO, p. 100).

A Imprensa Evangélica era um instrumento que a liderança possuía para orientar, instruir, alimentar e edificar os novos convertidos nos lugares isolados do país. Foi assim que nasceram muitas igrejas como é o caso inusitado da igreja de Ubatuba-SP. Aquela igreja nasceu através da Imprensa antes mesmo de chegarem os pregadores. As congregações brotavam às vezes quase à revelia dos poucos e exaustos missionários (RIBEIRO, p. 101).

Muitas pessoas eram assinantes da Imprensa e os frutos surgiam naturalmente.  Simonton relata alguns detalhes sobre isso:

Em Santos visitei duas pessoas que são assinantes da Imprensa... Um é americano, casado na família Lisboa; o pai de sua esposa foi marechal do exército brasileiro, um tio é almirante da esquadra e dois outros foram ministros do exterior... A mãe de Saldanha Marinho lê a Imprensa. Um sacerdote, filho do Regente Feijó, veio a Schneider para tomar assinatura da Imprensa. Recebi dinheiro de um padre do interior por uma assinatura da Imprensa Também de um advogado do Rio, (FERREIRA, p. 52).

Aos poucos a credibilidade desse periódico aumentava e atingia especialmente as camadas mais altas da sociedade, trazendo resultados extraordinários.

  1. A criação de escolas

Um grande obstáculo na evangelização era o analfabetismo comum em todo território brasileiro e principalmente no interior (HACK, p. 57). Simonton mostrava um forte interesse pela educação e via nas escolas um meio eficiente de realizar efetivamente o seu trabalho: “Outro meio indispensável para assegurar o futuro da igreja evangélica no Brasil é o estabelecimento de escolas para os filhos de seus membros. Se a nova geração não for superior à atual não teremos preenchido nosso dever” (MATOS, p. 184).

Ele considerava a leitura bíblica um elemento vital na maturidade cristã e para alcançar este objetivo era necessário ensinar as pessoas lerem. Pensando nisso, aonde os missionários chegavam logo procuravam implantar uma escola junto à igreja. A visão da educação tornou-se uma característica marcante da igreja presbiteriana.

Quando os pais apresentavam uma criança para o batismo deviam prometer perante a congregação que iam ensiná-la a ler e isto provocou uma revolução cultural naquela sociedade.

...a preocupação em implantar escolas não se deveu simplesmente ao fato de encontrar analfabetismo alarmante. A escola seria um instrumento de propagação do cristianismo nos moldes presbiterianos, com penetração mais fácil e que atingiria a sociedade brasileira mais rapidamente, (HACK, p. 58).

Essas escolas nasceram informalmente, mas acabaram tomando forma consistente ao longo dos anos, pois abriam portas gigantescas para a evangelização possibilitando o contato com pessoas que, de outro modo, não seriam atingidas. Através das escolas a cultura brasileira sofreu profunda influência servindo como agente de grande transformação no final do Século XIX.

  1. A criação do Seminário

Os missionários americanos, ao virem para o Brasil, manifestaram preocupação com o preparo de liderança local empreendendo esforços para que isto acontecesse. Para alcançar os objetivos propostos, os missionários buscaram recursos financeiros em sua pátria, pedindo à igreja americana investimentos para o Brasil. Isto foi feito durante muito tempo proporcionando condições de expansão.

Visando o treinamento de líderes nacionais, Simonton começou um Seminário no Rio de Janeiro – “Seminário primitivo”, em 1867. Nele formaram-se os primeiros pastores brasileiros, entre os quais, podemos destacar: Antonio Bandeira Trajano, Miguel Gonçalves Torres, Modesto Perestrello Barros de Carvalhosa e Antonio Pedro de Cerqueira Leite. Estes, ao concluírem o curso, foram ordenados e desenvolveram um ministério frutífero (ATAÍDES, p. 81-82).

Simonton é um exemplo de superação na obra missionária, pois conseguiu romper muitas barreiras e realizar seus projetos com eficiência dedicando-se resignadamente ao serviço do Mestre. Para propagar o Evangelho como ele fez, devemos buscar e usar estratégias na direção de Deus.

Pr. Florencio de Ataídes

 

OBRAS CONSULTADAS

ATAIDES. Florencio Moreira de. SIMONTON: o missionário que impactou o Brasil. Arapongas-PR: Editora Aleluia, 2008.

FERREIRA, Júlio Andrade. História da Igreja Presbiteriana do Brasil, Vol. I. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992.

HACK, Osvaldo Henrique. Protestantismo e Educação Brasileira. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1985.

MATOS, Aldery Souza (org.). O Diário de Simonton. São Paulo: Editora Cultura Cristã. 2002

RIBEIRO, Boanerges. Protestantismo e cultura brasileira. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1981.