João Calvino

07/11/2011 17:57

Aspectos biográficos de Calvino

João Calvino nasceu no dia 10 de julho de 1509, na cidade de Noyon, norte da França. Seu nome era Jean Cauvin, mas anos mais tarde adotou a forma latina Calvinus. Sua origem familiar era humilde, mas pelo esforço de seu pai, a família galgara uma boa posição social, chegando a pertencer à burguesia, classe média daquele tempo. Era filho de Gérard Cauvin, secretário do bispo da cidade e procurador da biblioteca da Catedral e de Jeanne Lefranc, mulher piedosa que muito contribuiu para a vida espiritual do filho e que faleceu quando ele tinha cinco ou seis anos de idade. Calvino tinha cinco irmãos sobre os quais pouco se sabe: Carlos, Antonio, Francisco, Maria e outra irmã de nome desconhecido. Casou-se em 1541 com Idelette de Bure, viúva de um pastor anabatista, com quem foi feliz até 1548 quando ela falece. Ao ficar viúvo, Calvino não se casou novamente, porém, não ficou inteiramente só, pois tinha muitos amigos, inclusive em outras regiões da Europa, com os quais trocava volumosa correspondência (www.mackenzie). Com Idelette, o reformador teve o único filho que morreu ainda na infância.

Como o pai de Calvino ambicionava para o seu filho uma posição elevada, o encaminhou à carreira eclesiástica, entregando-no para uma família nobre da qual recebeu esmerada educação. Com o cargo eclesiástico conseguiu recursos para os seus estudos.

Em agosto de 1523, com apenas 14 anos, seu pai enviou-lhe a Paris para escapar de uma peste devastadora em sua cidade natal. Ali, iniciou seus estudos na Universidade de Paris (Collège de la Marche) e, como aluno brilhante, extremamente aplicado, piedoso e cumpridor de seus deveres, estudou teologia, filosofia e latim, tornando-se profundo nestas matérias, causando inveja aos seus colegas.

O jovem Calvino era um rapaz que levava muito a sério os seus estudos. Era um “moço recatado, enquanto no transcorrer dos recreios, seus colegas procuravam desfrutar do merecido descanso... Calvino estava junto de seus mestres, a bombardeá-los de perguntas, procurando aprender mais e mais. Esquecia-se da hora de dormir, avançava em seus estudos noite a dentro, até altas horas” (SOUZA, p. 28).

Em Paris, Calvino encontrou Guillaume Cop que o influenciou no Humanismo cristão. Ainda nesta época, teve também seus primeiros contatos com as idéias protestantes através de seu primo Pierre Olivetam (CAIRNS, p. 252).

 Quando terminou os estudos em Paris, foi enviado por seu pai para a Universidade de Orleans para estudar Direito e depois transferido para a Universidade de Bourges, em 1529, onde concluiu o seu curso. Nesta época, acentuou-se a sua inclinação para o humanismo, tornando-se um admirador do célebre Erasmo de Roterdan. Calvino escreveu sua primeira obra, De Clementia, um comentário de Sêneca, em 1532, marcando o ápice da influência humanística na sua vida.

Sua conversão deve ter ocorrido por volta de 1532 ou 1533, na França. No entanto, não sabemos exatamente quando e onde aconteceu, pois fala pouco de si e apenas cita que sua conversão fora “repentina”. O que sabemos é que “em 1534, se apresentou em sua cidade natal Noyon e renunciou aos benefícios eclesiásticos que seu pai havia conseguido e que era sua principal fonte de sustento econômico. Se ele já estava decidido nesse momento, a abandonar a igreja romana, ou se esse fato foi simplesmente um passo a mais na sua peregrinação espiritual, nos é impossível saber”, (GONZALEZ, p. 110).

Em outubro de 1534, Francisco I, rei da França, até então relativamente tolerante com os protestantes, mudou sua política e ficou furioso com Calvino. Pois este colaborou com Nicholas Cop, reitor da Universidade de Paris, na elaboração de um documento recheado de humanismo e reforma, por isso, Calvino exilou-se na cidade protestante de Basiléia, na Suíça. Em 1535, nesta cidade escreveu um tratado teológico, obra que o tornou célebre, cujo titulo era: “As Instituições da Religião Cristã ou As Institutas”, aos 26 anos de idade. Esta obra foi bem aceita inclusive pelo reformador Martinho Lutero. Este pequeno livro (na primeira edição) foi um documento endereçado a Francisco I defendendo os protestantes da França que estavam sofrendo por sua fé, pedindo-lhe que aceitasse a reforma. Depois de sucessivas edições revisadas e ampliadas, tanto em latim como em francês, sendo a última cinco vezes maior que a primeira publicada 1539.

Em razão da perseguição, Calvino fugiu de Paris para Strasbourg ou Estrasburgo, onde a reforma triunfara. Ali era um lugar tranqüilo e propício para continuar seu trabalho de escritor. Em sua trajetória para Strasbourg foi forçado a fazer um desvio e passar pela Suíça, por causa da guerra entre o exército de Francisco I e o exército do Imperador espanhol Carlos V. Quando pernoitava em Genebra, cidade que há dois meses havia aceitado as idéias da Reforma pela influência de Guilherme Farel, foi convidado pelo mesmo para auxiliá-lo na implantação da Reforma Protestante ali. Ele não aceitou, pois seu desejo era estudar e escrever, mas Farel ameaçou-lhe dizendo: “Deus amaldiçoe o teu descanso e a tranqüilidade que buscas para estudar, se diante de uma necessidade tão grande te retiras e te negas a prestar socorro e ajuda”, (GONZALEZ, p. 113). Então, impelido pelo medo, cedeu ao convite (CAIRNS, p. 253).

Foi ordenado ministro em 1536 e permaneceu em Genebra até ser expulso juntamente com Farel em 1538, refugiando-se em Strasbourg, onde passou a pastorear refugiados franceses até 1541. Aqueles foram os anos mais felizes e tranquilos de sua vida. Em 1541, foi chamado a voltar a Genebra pelas mesmas autoridades que o haviam expulsado.

Em meados de 1541, Calvino retornou a Genebra e uma de suas primeiras ações ao chegar ali foi redigir as Ordenanças Eclesiásticas, aprovadas pelo governo da cidade. Os primeiros anos de trabalho foram de turbulências e com desafios quase que intransponíveis até o Conselho Municipal passar a ser constituído de homens que o apoiavam.

Em 1559, Calvino viu cumprir-se um de seus sonhos: a fundação da Academia de Genebra, dirigida por Teodoro Beza. Nesta Academia, eram ensinados os princípios calvinistas. Muitos jovens de Genebra, bem como de outros países como, Holanda, Escócia, Hungria, França, ingressaram na Academia e depois de formados, levaram o calvinismo às suas pátrias. Calvino era um líder extraordinário e “graças à sua liderança, Genebra tornou-se famosa e atraiu refugiados religiosos de todo o continente. Ao regressarem a seus países de origem, essas pessoas ampliaram ainda mais a influência de Calvino” (www.mackenzie).

João Calvino foi, sem dúvida, um dos principais líderes da Reforma Protestante do século XVI e pertence à segunda geração de reformadores. Seu trabalho é chamado de Segunda Reforma. Autor de muitos livros e de vasta correspondência tinha também excepcional capacidade de organização e administração. Essas características fizeram-no destacar-se como figura dominante da Reforma. Exerceu grande influência na Suíça, Inglaterra, Alemanha, Hungria, França, Irlanda, Escócia e América do Norte.

 Em 1564, já debilitado fisicamente, “preparou seu testamento e se despediu de seus colaboradores. Farel, que havia se dedicado a prosseguir a obra reformadora em Neuchâtel, foi ver seu amigo pela última vez”, (GONZALEZ, p. 117). Seu corpo frágil não resistiu por mais tempo os árduos combates pela causa do Evangelho. Pregou seu último sermão no dia 16 de fevereiro de 1564, falecendo três meses depois no dia 27 de maio daquele ano, com apenas 55 anos. Teodoro Beza, reitor da Academia de Genebra, assumiu a liderança do seu trabalho.

João Calvino deixou-nos um legado incalculável e imortal. Suas idéias continuam vivas influenciando gerações até os nossos dias. “Um dos emblemas que aparecem nas obras do reformador mostra uma mão segurando um coração e as palavras latinas, “Cor meum tibi offero Domine, prompte et sincere”, “O meu coração te ofereço, ó Senhor, de modo pronto e sincero” (www.mackenzie).

 

Pr. Florencio de Ataídes

Bibliografia

CAIRNS, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos. São Paulo: Vida Nova, 1995.

GONZALEZ, Justo L. Uma História Ilustrada do Cristianismo, Vol. 9. São Paulo: Vida Nova, 1986.

SOUZA, Manoel B. Por que somos Presbiterianos. Rio de Janeiro: Princips, 1963.

SITE: www.mackenzie.br/7034.html. In: 06/06/09